domingo, 3 de junho de 2007

Art Sullivan: Entrevista


O PRIMEIRO DE JANEIRO

Ana Sofia Rosado

“Pensei que estava esquecido”

O melhor dos êxitos é o repertório que Art Sullivan prepara para cada espectáculo. Lisboa e Porto são as cidades escolhidas para barómetro da popularidade que o cantor belga conquistou junto dos portugueses há três décadas. A sua energia vem do público, garante quem quer cantar até morrer.

Art Sullivan continua Art Sullivan, mas agora a sua música reflecte outro olhar. Um olhar que privilegia, por exemplo, a beleza do pôr-do-sol. Mais de trinta anos volvidos, o incorrigível romântico só quer continuar a reencontrar-se com o público. Em entrevista ao JANEIRO, o cantor belga partilhou o gosto pelos espectáculos ao vivo e a importância de ser independente das modas musicais.

Art Sullivan regressa este mês a Portugal, depois de ter actuado na Feira de Mateus, em Viseu, no ano passado. Êxitos como «Ensemble», «Petit fille aux yeux bleus», «Adieu sois Heureuse», «Une larme d’amour», «Un océan de caresses», «Donne-donne moi» e «Petit demoiselle» vão ser revisitados dias 25 e 26 nos Coliseus de Lisboa e Porto, respectivamente. O alinhamento inclui temas do último álbum de originais «Tout est dans tout» de 2006. Portugal é um dos países onde conquistou maior popularidade, tendo esgotado as actuações em 1977 perante dezenas de milhares de pessoas. Nos próximos concertos, vai procurar “o reencontro da comunhão, contactar de novo com o público português”, adiantou.

Desde 1972, quando lançou o primeiro êxito em França «Ensemble», Art Sullivan compôs e cantou intensamente durante seis anos. Em 1978 decidiu deixar de actuar: “Quando deixei a canção, continuei a escrever música genérica na minha produtora audiovisual. Era um tempo diferente e deixei de ter inspiração para a época. Preferi parar do que fazer coisas de que não gostava, mas não o disse a ninguém, simplesmente não continuei”. O cantor dedicou-se, então, à produção e composição musical para documentários, programas educativos e séries que granjearam igual sucesso junto dos públicos. A década de 90 trouxe novidades, sobretudo para o próprio Art Sullivan.

“Quando decidiram editar o CD duplo «36 Canções» com os grandes êxitos da minha carreira, pensei que eu estava esquecido. Contudo, em França venderam-se 200 mil discos e em Portugal o disco atingiu a platina. Fiquei muito surpreendido e foi isso que me fez regressar”, explica. A nova fase significou voltar “à festa que são os concertos”, porque “o contacto com o público é o mais importante”, diz. A experiência foi renovadora e fê-lo redescobrir a magia dos concertos: “É o público que me dá energia em palco”. O espanto acompanhou o regresso, pois há 15 anos que ninguém ouvia falar de Art Sullivan. “As mulheres pensavam que eu estava morto!”, brinca.

Apesar da forte concorrência que encontrou não perdeu a segurança: “Nunca fiz a minha carreira em função dos outros cantores. Faço o que gosto, o público aprecia ou não, mas faço-o na esperança de que o público também goste”.
Em retrospectiva, Art Sullivan considera que muitas coisas mudaram no mundo da canção. “Penso que antes era mais simples, como no amor. Ou se ama ou não, é químico.

Na música, como na natureza, é a atracção que funciona. São coisas muito simples e entristece-me o facto de hoje, por vezes, complicar-se tudo demasiado. O mundo da música está mais simplificado, mas pensa-se que o simples é ridículo. Quando eu digo ‘amo-te’ é simples, mas hoje querem dizê-lo de outra forma. A minha maneira é a mesma, porque desde que existem homem e mulher as emoções são sempre naturais. Já o eram no tempo de Júlio César, há dois mil anos, e serão sempre.‘Amo-te’ diz-se sempre da mesma maneira”, mantém.

Depois de ter estado nos Estados Unidos a compor música para filmes, Art Sullivan dá início em Portugal à mini-tour europeia, com concertos na Bélgica e em França. Considerando que ficou muito tempo sem compor canções – “quase 24 anos” –, o músico destaca as diferenças: “Cantei durante os anos 70, mas agora tenho 57 anos. É na mesma Art Sullivan, mas 25 anos depois. Vejo as coisas de outra maneira, o pôr-do-sol, por exemplo, agora é muito bonito”.

Novos projectos na música, existem sempre, mas hoje o mais importante para Art Sullivan são os espectáculos. “O meu principal projecto é o reencontro com o público”, garante o cantor belga, que espera cantar até à sua morte.

Sem comentários: